Eu tinha 16 anos e tocava no “Xangô 3”. Ensaiávamos todas as tardes após a minha escola. Em uma dessas tardes, o pianista não foi ensaiar e, então, o batera e eu resolvemos ir ao “Canja” (Clube dos Amantes do Jazz) em São Paulo, pra talvez tocar um pouco com alguém que estivesse por lá. Para nossa surpresa, quem estava tocando era o Hermeto, que usava o piano para estudar à tarde.
Eu não o conhecia pessoalmente, mas sabia do “Quarteto Novo” que, na época, estava atuante. Essa foi a primeira vez que toquei com ele. Em 1977 ele me chamou para tocar no “Hermeto Pascoal & Grupo” e eu me mudei para o Rio de Janeiro onde vivo até hoje.
Naquele tempo, gravamos vários trabalhos e viajamos pelo mundo afora, compartilhando a Música Universal com todos e em todos os lugares. Por causa da afinidade musical que temos, sempre converso muito com Hermeto sobre todos os assuntos, mesmo fora da música. Ele sempre exalta minhas qualidades harmônicas e o que eu sinto pela música, e isso nos aproxima bastante.
Na minha ótica, o Hermeto é o mais profundo, abrangente e criativo músico que apareceu nesse mundo, e ainda precisarão de muitos anos para que se possa dimensionar a importância real de sua obra musical.
Desde criança, ele foi muito ligado na natureza, e sempre através do som: do carro de boi na roça, dos pássaros, etc. Isso para ele já fazia parte de sua música, tanto que ele sempre fez questão de mostrar isso, até quando levou dois porquinhos ao palco de um festival de música para que eles gritassem em um determinado trecho da música.

A música ele aprendeu sozinho graças à intuição, (que ele chama de seu mestre). Ele me estimulou a desenvolver esse sentido, e isso foi e é uma das coisas mais importantes da minha formação na “Música Universal” . Outra coisa muito importante é que o Hermeto cria e deixa criar. Eu desenvolvi meu próprio estilo de tocar o Baixo, e o meu maior estímulo foi e é tocar com quem não para de criar.
O termo “Música Universal” foi imaginado pelo Hermeto para englobar todos os gêneros de música, ritmos, matizes melódicos, etc , caracterizando essa música que acolhe tudo e todos, nos chamando a não só aceitarmos todas as culturas, raças e credos , como a nos conscientizarmos da riqueza humana que está contida nisso.
Quando eu me deparei com isso tudo, me senti em casa. Isso foi o que eu sempre senti, mas não havia me dado conta até então. Essa música que fazemos não exclui, agrega. Chama a todos para nos juntarmos, num objetivo maior que é unir os povos através da arte, neste momento de transição planetária.
A beleza dos sons organizados com arte será sempre a nossa direção, “música do coração!” “Quem entender morre!” ( porque é pra sentir). “Intuição, em primeiro lugar!”
Viva a Música Universal!
Itiberê Zwarg : Perguntei ao Hermeto qual o disco que gravou e que mais gostou. Ele respondeu :
“Meus Discos são que nem filho, cada um você gosta de um jeito. Pega esse último, só porque é o mais novinho.”